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Gui

Boratto

Um papo com um dos mais influentes DJs e produtores do Brasil, que celebra os 20 anos do pontapé de sua exitosa carreira internacional

por_Alessandro Soler de_Salvadorimagens_canal @MDLBEAST no YouTube

Um papo com um dos mais influentes DJs e produtores do Brasil, que celebra os 20 anos do pontapé de sua exitosa carreira internacional

por_Alessandro Soler de_Salvadorimagens_canal @MDLBEAST no YouTube

Gui Boratto está celebrando os 20 anos de lançamento do EP “Arquipélago”, sua primeira compilação de músicas e ponte para o primeiro álbum, “Chromophobia”, um divisor de águas em sua carreira. Um dos mais influentes DJs e produtores brasileiros de trajetória internacional (arquiteto de formação), este paulistano de 51 anos integrou uma geração pioneira de criadores nacionais que tomaram de assalto as pistas globais na primeira década deste século. Uma geração que abriu as portas a nomes recentes como Alok e Vintage Culture.

Parceiro de ícones da música internacional como Pet Shop Boys, Moby, Paul Simon, Rita Lee e Massive Attack em inúmeros remixes de sucesso, Boratto um dos primeiros a ter contrato com um selo estrangeiro, o mítico Kompakt, da Alemanha. Também compôs produções originais e remixes para as trilhas sonoras de filmes como “Cidade de Deus” e “A Grande Beleza”, sucesso italiano vencedor de prêmios como Oscar, Bafta e Globo de Ouro.

foto_Arquivo pessoal

Gui Boratto em ação

À Revista UBC, ele relembra essa trajetória de sucesso e fala sobre projetos atuais e futuros:

Aquela primeira metade dos anos 2000, quando você se projetou lá fora, era um momento favorável para isso? Havia um interesse particular dos gringos nos DJs e produtores nacionais?

GUI BORATTO: Curiosamente, não. Quando lancei meu primeiro EP, “Arquipélago”, pela Kompakt, muitos brasileiros o acharam lento demais. Mas na Europa, especialmente na Alemanha e na França, ele virou um hit no meio underground. Isso só reforçou algo que sempre percebi: meu reconhecimento começou de fora pra dentro. Foram os DJs internacionais que abriram caminho para que meu nome ganhasse corpo no Brasil. E, naquela época, ser brasileiro no cenário eletrônico ainda carregava um certo estigma. Demorou para quebrarmos essa barreira interna.

O que sente ao pensar neste turbilhão de duas décadas de carreira lá fora? O que mais o marcou?

“Arquipélago” foi o segundo vinil mais vendido da história da Kompakt, algo em torno de 28 mil cópias. Para um single de duas faixas, e em vinil, isso foi expressivo. A recepção desse EP, junto com outros dois singles subsequentes, fez com que a Kompakt me convidasse para lançar meu primeiro álbum, “Chromophobia”. Esse disco foi um divisor de águas. Ao mesmo tempo contido e experimental, ele já trazia “Beautiful Life”, um dos meus maiores hits, com guitarras, vocais e uma estética quase indie. Essa faixa me levou para os palcos principais dos grandes festivais e me inseriu num lugar mais amplo, menos nichado. Foi quando percebi que a música podia ser pop sem perder complexidade.

foto_Divulgação

E que parcerias foram as mais notáveis?

Foram muitas. Remixes para Massive Attack, Pet Shop Boys, Goldfrapp, Moby, Paul Simon... E também produções inteiras, como um álbum do Bomb The Bass, projeto seminal do fim dos anos 80, que produzi ao lado do próprio Tim Simenon, com participação especial do Martin Gore, do Depeche Mode. Além disso, compus trilhas para games como “Halo 4", campanhas publicitárias e cinema, com parte da trilha de “A Grande Beleza”. Também assinei a trilha de um desfile da Chanel, em 2011. São memórias que extrapolam o universo da música e me conectam a outras linguagens: moda, cinema, arte contemporânea. Lembro de conversas com o Karl Lagerfeld, encontros com o Colin Hanks... tudo isso amplia a noção do que significa “ser músico”.

A cultura de pista sempre se reinventa. E sobrevive justamente porque resiste às tendências e às fórmulas.

Gui Boratto

Você tem criado coisas com regularidade? Algum projeto prestes a ser lançado? Novos álbuns, singles?

Sim, estou sempre ativo — tanto no meu trabalho autoral quanto na curadoria e produção do que sai pela DOC Records, meu selo. Tenho quatro singles prontos para lançamento ainda este ano, além de um novo álbum a caminho. A fase atual é muito criativa. Estou buscando novos formatos de apresentação também, mais performáticos, menos convencionais.

Muitos analistas da cena de música eletrônica para dançar, mundo afora, vêm vaticinando há anos o fim da era dos mega DJs. Eles têm razão?

Tudo é cíclico. Como na moda, uma hora a calça é justa, depois larga demais. O entretenimento segue a mesma lógica. As pessoas se cansam do excesso. A saturação dos megaeventos inevitavelmente leva à valorização dos espaços menores, dos clubes, das experiências mais íntimas e orgânicas. E esse movimento está acontecendo. A cultura de pista, a original, sempre se reinventa. E ela sobrevive justamente porque resiste às tendências e às fórmulas.

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