João Gomes lançou no final de maio “Do Jeito Que O Povo Gosta”, recheado por nada menos que 25 faixas de forró e piseiro, muitas das quais já viraram hits. Com algumas participações (Hungria, Yara Tchê) e um time amplo de compositores (além dele próprio, gente como Tarcísio do Acordeon, Jefferson Lima, Ludmila, Toninho Aguiar, Umberto Tavares, André Vila e vários outros), o pernambucano brinca de adaptar sucessos do pop, como “Nada Por Mim” (escrita por Herbert Vianna e Paula Toller, eternizada na voz de Marina Lima), para o forró.
Mas esses cruzamentos não se limitam ao novo trabalho. Ele acaba de gravar uma canção de MPB com Marisa Monte, dois anos depois da interessante versão de “Comentário A Respeito de John” (de Belchior) que dividiu com Vanessa da Mata. “Canção da América”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, também ganhou a voz grave e afinadíssima do cantor numa gravação para a trilha de “O Auto da Compadecida 2”.
Ápice do seu flerte com novos gêneros, novas parcerias, é o álbum com Mestrinho e Jota.pê, “Dominguinho”, que o leva a outras paragens sonoras. Mas ele nunca se esquece de onde vem:
“Foi um processo bonito demais”, afirma, sobre “Do Jeito Que o Povo Gosta”, em entrevista ao site Popline. “A gente queria fazer um álbum de piseiro do mesmo nível do primeiro que lançamos. Tem música nesse disco que minha mãe ouvia em casa, outras que eu escutava no radinho quando era mais novo. ‘Nada Por Mim’, por exemplo, é uma muito especial porque minha mãe ouvia em casa. Algumas músicas desse projeto são da época em que eu ficava sonhando com tudo isso aqui que está acontecendo hoje.”
Mais uma integrante da grande família Gil mostra seu talento para a música. Com só 16 anos, Flor Gil estreia na música lançando um álbum completo, “Cinema Love”. As músicas são todas composições suas, e a maioria em inglês: baladas, indie pop, bossa nova, R&B. A idade, a escolha da língua, os gêneros e temas (amadurecimento, saudade, amor) fazem lembrar outra cantautora que estreou cedo, Mallu Magalhães, e que terminou empreendendo voos altos.
Em seu disco, a neta de Gilberto Gil, filha da apresentadora Bela Gil, reflete sobre suas experiências. Na maioria das faixas o faz sozinha. Em outras, tem a companhia de gente como Carol Biazin, Vitão e MARO. É com esta última, aliás, uma cantora e compositora lisboeta de 30 anos, que ela divide os vocais de uma das duas únicas faixas em português, “Choro Rosa - Versão Diamante Bruto”, escrita por Flor, pelo primo Bem Gil e por Bárbara Ohana. O tema, a distância de quem se ama, evoca diretamente a própria vida dela, criada entre os Estados Unidos e o Brasil.
Bárbara Ohana, Pedro Malcher, Vitãoe Gabriel Mielnik dividem a produção.
Grelo lançou há poucos dias seu novo álbum, “Ao Vivo Em Salvador”. Gravado na Arena Fonte Nova, tem oito canções ao todo, quatro delas inéditas, num amálgama de parcerias que misturam os universos sertanejo, arrocha e brega e tem arrastado milhares de pessoas a cada show do artista goiano (além de ao redor de 9 milhões de ouvintes mensais no Spotify).
As faixas novas são “Caminhão de Frete” (escrita por ele e por Bia Frazzo e Eliabe Queixin), “Apelido Diferente” (Grelo), “Cê Não Vai Pro Céu” (Bia Frazzo e Grelo) e “Chora de Tabela” (Tunico da Vila, Moura e Matheus Cott). Já as regravações são sucessos de Henrique e Juliano e Matheus Kauan, além de criações do próprio Grelo, como “Só Falta Cê Prestar” (composição dele com Diego Silveira, Júnior Pepato e Lucas Santos) e “Café e Cafuné” (quase o mesmo time de criadores, com Luan Santana no lugar de Lucas Santos).
“Esse estado sempre me recebeu tão bem, a Bahia transcende muito do que o Grelo é, alto astral, boa vibe, sempre tentando ver o lado bom da vida nas coisas simples do dia a dia. A ideia de gravar o audiovisual na Bahia foi unir essa energia e mostrar para as pessoas de casa o que é o Grelo ao vivo”, afirmou o artista, que, antes de se lançar como intérprete, teve centenas de músicas gravadas por grandes nomes do sertanejo, do forró e do arrocha.
Também gravado na Bahia, o novo álbum da cantora Majur, “Gira Mundo”, homenageia os orixás em releituras de antigas cantigas do candomblé adaptadas e modernizadas pela própria artista. São 16 faixas, todas elas em iorubá, com uma força afrofuturista notável.
“O candomblé surgiu como um ato de resistência, pois o nosso país não aceitava outras culturas e crenças. Quero, portanto, retornar esse contexto histórico e o reapresentar por uma nova narrativa com elementos futuristas e atuais da nossa história”, diz. “O Brasil é um país plural e miscigenado, e reconhecer a cultura afro-brasileira, sem preconceitos ou demonizações, é essencial para valorizar a nossa própria identidade.”
Com produção de Ícaro Sá e Ícaro Santiago, o disco une atabaques a piano clássico, baixo acústico e clarinetes. É um abraço entre elementos europeus e africanos para fechar a trilogia iniciada com “Ojunifé”, primeiro disco da cantora.
“Apesar de evidenciar a intolerância religiosa e o racismo no Brasil, esse álbum não é sobre religião. É sobre recontar a nossa história nos tempos de hoje. É sobre transformação e conexão, informação para o povo, sem mais”, finaliza.
Com três músicas gravadas, o EP “Acústico, Vol. 2 (Ao Vivo)” dá início à nova safra de lançamentos do sertanejo Murilo Huff. Gabriel Agra, Os Parazim, Júnior Pepato e um extenso time de compositores participaram da criação dos singles “Mulher Sem Ciúme - Ao Vivo”, “Duas de Você - Ao Vivo” e “Tomara - Ao Vivo”, que já acumulam milhares de audições nas plataformas digitais. E não é a única novidade de Huff, que, em maio, apareceu dividindo os vocais com a dupla Paulo e Nathan no Single “Camisa de Força - Ao Vivo”; e, em junho, com Bruno e Denner na faixa “Dizer Não (Ao Vivo)”.
Enquanto prepara seu próximo álbum de inéditas, Huff aposta na estratégia das versões ao vivo para esquentar o público ávido de novidades do sertanejo. Imediatamente antes do volume 2 do Acústico, seus lançamentos mais recentes são “Ao Vivão 4” (dezembro de 2024), com 83 milhões de audições no Spotify, e “Fortaleza (Ao Vivo)” (agosto de 2024), com nada menos que 661,7 milhões de audições na mesma plataforma.
Lançado no último dia 28 de maio, “Beleza. Mas Agora O Que a Gente Faz Com Isso?” é o quarto (mas poderia ser o quinto) álbum do cantor e compositor carioca Rubel. A dúvida sobre o número se deve à natureza do trabalho anterior, “AS PALAVRAS, VOL. 1 & 2”, um disco duplo (ou dois discos em um?) lançado em 2023.
“No ‘AS PALAVRAS’ não gravei nenhum violão. Já a alma deste (novo) disco é o violão. Meu violão amadureceu muito neste período, e eu sentia que não tinha mostrado isso ainda”, afirmou o artista em entrevista ao UOL.
“Beleza” é um disco autoral, com 7 das 9 das músicas escritas por Rubel, e apenas uma por outro compositor solo (El David Aguiar, em “A Janela, Carolina”). Rubel também o produziu só, e no seu home studio, com o artista tocando não só violão, mas também baixo e bateria. Toda uma declaração de intenções de um artista que, aos 34 anos, começa a refletir mais sobre questões como a passagem do tempo e a finitude da vida.
“Tem essa sensação de urgência de viver de uma maneira afirmativa e significativa. O sentimento central seria a vontade de viver”, concluiu.
A cantora e compositora pernambucana apresenta o novo EP, “Universo de Paixão II”, uma continuação — e aprimoramento — de seu flerte com o forró eletrônico expresso no lançamento anterior, “Universo de Paixão”, ano passado. Timbalada, Soweto, Zé Ramalho, Alceu Valença, Anastácia e Dominguinhos tiveram clássicos revisitados e, em alguns casos, transformados pela primeira vez em forrós.
Há 12 anos radicada no Rio, a artista diz que o novo trabalho reforça seu desejo de manter pés e cabeça na sua cultura, nas suas origens.
“Eu acho que nunca me afastei tanto ao ponto de sentir saudade. Claro que eu sinto falta do dia a dia, das pessoas, das paisagens, do cheiro da cidade, das comidas e tudo. Mas, no meu fazer artístico, em tudo o que eu faço, eu reverencio muito a minha cultura e as minhas raízes”, define a pernambucana, que já havia misturado forrós, cocos, ciranda e maracatu no álbum de estreia, “Ave Mulher”, de 2023.
Ela mesma produziu o novo disco com Beto Lemos. E os novos arranjos tiveram a participação de músicos como o sanfoneiro Rainer Oliveira.
“Acho que (este novo disco) está mais raiz, porque eu trouxe o trio, tem a sonoridade, a sanfona, a rabeca, a zabumba, o triângulo, o ganzá. Fiz muita questão de trazer essas sonoridades tradicionais do forró”, ela recalca.
Tem MPB? Claro que tem. Mas vai além, muito além, o novo álbum de Zé Ibarra. O carioca de 28 anos, que despontou com a banda cult da nova geração Bala Desejo, entrega um segundo disco solo, “Afim”, marcado por sonoridades variadas, que bebem do indie-rock, mergulham em baladas com sotaque setentista, desaguam no jazz. Num jogo de acepções para a palavra afim, uma delas salta aos olhos e vem sendo apontada pela crítica especializada: ao abraçar a experimentação, Ibarra parece estar mais afim, mais semelhante, a outros de sua geração.
São oito faixas, três delas autorais (“Infinto em Nós”, “Transe” e “Retrato de Maria Lúcia”, todas escritas com Lucas Nunes); e as outras, releituras de canções de artistas como Sophia Chablau (“Segredo”, “Hexagrama 28”) e Maria Beraldo (“Da Menor Importância”), além de uma inédita de Tom Veloso (“Morena”).
“Este projeto é uma tentativa de, me aproveitando do que em mim é natural e espontâneo, repaginar e trazer uma nova sensação à minha música. Sensações que já vinham dentro de mim há muito tempo, mas que eu ainda não tinha conseguido encarnar em uma obra. Acho que agora se abre essa oportunidade e, com ela, a chance de me colocar em um lugar mais instintivo e menos formatado”, afirma.
A produção é toda dele e de Lucas Nunes.